“The Promise of AI Is No UI” vs. O Hype das Plataformas de Criação de Apps com IA

Vivemos uma era de avanços tecnológicos exponenciais, onde a inteligência artificial deixou de ser promessa distante e passou a compor o núcleo estratégico de inúmeras empresas e produtos.
Nesse cenário, surgem duas narrativas simultâneas, e aparentemente contraditórias. De um lado, o fascínio pelas plataformas que permitem criar aplicações com simples descrições em linguagem natural. De outro, uma tese cada vez mais discutida entre pensadores de tecnologia: a de que o próprio conceito de aplicativo está com os dias contados.
Naval Ravikant sintetizou essa provocação em uma frase que já se tornou quase um aforismo moderno: “The promise of AI is no UI.” A promessa da IA não é uma interface melhor. É a ausência de interface.
Essa afirmação não nega o progresso atual. Pelo contrário: reconhece a sofisticação das ferramentas que permitem transformar prompts em fluxos, telas, botões e automações, mas propõe uma ruptura radical com o paradigma de interação que ainda domina o design de produtos digitais. O que está em jogo não é apenas como criamos interfaces, mas se elas continuarão a ser necessárias.
O Encanto da Criação Automatizada
É impossível ignorar o apelo das plataformas de construção de apps com IA. Elas representam uma evolução clara em termos de velocidade. Profissionais sem conhecimento técnico podem, pela primeira vez, dar vida a suas ideias com poucos comandos.
Os benefícios são evidentes: tempo reduzido, custos menores, entregas funcionais em questão de horas. A promessa aqui é democratizar a construção de software e há mérito nisso.
Contudo, ao mesmo tempo em que essas soluções ganham mercado, cresce uma desconexão fundamental: elas ainda operam dentro de um paradigma que a própria IA já começou a questionar.
O Paradoxo da Interface
Aplicativos, como os conhecemos hoje, são construídos em torno de interfaces. Telas, menus, botões, formulários. A lógica por trás desses elementos é permitir que o usuário navegue até uma solução. Mas essa navegação, por mais intuitiva que seja, ainda é fricção.
O que a IA propõe e já começa a entregar, é outra coisa: intenção em vez de interação.
Na lógica dos agentes autônomos, o usuário não precisa mais saber como chegar ao resultado. Basta dizer o que deseja.
A IA interpreta o pedido, compreende o contexto, toma decisões e entrega o que foi solicitado. Sem telas. Sem onboarding. Sem tutoriais. A experiência se desloca do visível para o invisível.
A Complexidade Muda de Lugar
Quando a interação desaparece da superfície, ela precisa ser absorvida por estruturas mais profundas. O trabalho deixa de estar na construção visual e passa para o tratamento dos dados, na modelagem de decisões, na inferência contextual. O backend assume o protagonismo.
Nesse cenário, o diferencial competitivo não será mais a “facilidade de uso” de um app, mas a eficácia silenciosa de um sistema que entende, aprende e resolve, com o mínimo de atrito possível.
Essa mudança exige novas competências. Novas arquiteturas. Novas formas de pensar produto.
Estamos Investindo em um Paradigma em Declínio?
Há uma contradição latente no mercado: ao mesmo tempo em que a IA nos mostra caminhos para além dos apps, multiplicam-se as soluções que buscam otimizar a criação… de mais apps.
É uma corrida para tornar mais eficiente um modelo que, aos poucos, está sendo desmontado.
Isso não significa que essas plataformas não têm valor. Elas cumprem um papel importante na transição. Mas é necessário reconhecer que elas são um passo intermediário, não o destino final. Quem investe nelas como fim, pode estar apostando no que será rapidamente superado.
É como investir pesadamente em máquinas de escrever enquanto os primeiros computadores pessoais já começam a surgir.
Conclusão: O Valor Está no Invisível
O futuro da interação com a tecnologia não está em telas mais bonitas ou fluxos mais rápidos. Está em eliminar a necessidade de interface. Em fazer com que a tecnologia desapareça, não por irrelevância, mas por integração perfeita à nossa intenção.
A arquitetura muda. O produto muda. A estratégia muda. E, mais do que tudo, muda o foco: do que o usuário vê para o que o sistema entende.